sábado, 13 de dezembro de 2008

VAI VALÊNCIO.

Sempre perdido dentro de mim mesmo, acabo sempre atrasado nas notícias de última hora. Vim saber apenas hoje que o escritor Valêncio Xavier passou para o andar de cima. Autor de O Mez da Grippe Valêncio foi considerado um escritor que se segurava na lembrança, na memória, para compor seus contos, que por vezes eram caóticos, outras vezes calmos, jornalísticos, cinematográficos ou descritivos a ponto de fazer o leitor realmente ver ou sentir o que o personagem estava vendo ou sentindo. Valêncio criava seus contos colocando personagem e leitor em um tipo de labirinto escuro, sufocante, claustrofóbico. Comprei O Mez da Gripe há poucos dias e o li em dois instantes, sem imaginar que o autor tão cuidadoso com seus contos estava perto de chegar a seu fim carnal nesta existência.

Valêncio sofria de Alzheimer, essa terrível doença que faz com que aos poucos a pessoa perca a memória de uma forma cruelmente triste. Fica aqui o singelo desejo deste tão recente e falho leitor, de que Valêncio seja capaz de cada vez mais penetrar na lembrança, na memória das pessoas deste país tão coberto pelo esquecimento sobre seus escritores.

"Tiro Valêncio Xavier da estante.
Deito na cama que fiz.
As pessoas morriam de gripe
No mundo que eu mesmo quis."

Lourenço Mutarelli em O Cheiro do Ralo

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