segunda-feira, 24 de novembro de 2008

SARTRE É NADA!

[Sartre em; O ser e o nada, ou qual quer bobagem dessas, eu não me importo eu não ligo!

Ensaio ontológico sobre a tensão argumentativa noturna nos ante – Sartreanos e etc.etc. e tal.]

É madrugada. A poeira das revistas e livros antigos faz descer do meu nariz um tipo de catarro engraçado que brilha bonito. É mais viscoso que os catarros normais e observo sua lenta descida até o pano de chão que arrumei para apará-lo.

Enquanto vejo esta bela secreção sair de dentro de mim, penso em como é difícil juntar umas letrinhas pra dizer as coisas nas quais acreditamos. Assim, sem parecer nem menos do que você é. “What is it you want to change?” (o que é que você quer mudar?). Aposto que, toda vez que as letrinhas teimam em sair da sua cabeça você pensa nessa frase e ela se repete exaustivamente ai dentro.

Sartre repousa pesadamente sobre minha mesa, no interior das mais de quinhentas páginas de “O Ser e o Nada”, que eu não sei se vou ler (provavelmente não, o que você acha?). Conforta-me a idéia de que talvez Sartre também não soubesse o que “O Ser e o Nada” mudaria. Conforta-me ainda mais a certeza de que, mesmo que eu quisesse, não me meteria a escrever mais de quinhentas páginas e ainda assim não saber o que muda depois de tudo.

Acho que não é muito adulto brincar de elevador com o próprio catarro. Mas sei lá, a filosofia, pelos mesmos motivos, também não é muito adulta. Cada um defende aquilo em que acredita.

Eu acredito no catarro. Você pode acreditar em Sartre ou no seu catarro. O fato é que, tudo que preciso é de um lenço! Para Sartre, conseguir umas letrinhas era bem mais fácil do que é pra gente (será?). E que diferença faz? Bem, não há nenhuma diferença entre Sartre e eu, a não ser a de que ele precisaria de zilhões de argumentos para explicar que o meu catarro existe, enquanto eu simplesmente sei que ele existe.

Edvaldo Ramos Leite
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Texto publicado inicialmente no zine “Plano 9”, um dos zines mais azilantes , pirados e nonsence que já surgiu aos meus olhos aqui em Fortaleza. O zine teve ao todo quatro números e rolou pela cidade pelo menos por um ano eu acho. Já tinha colocado este texto em meu antigo blog, mas acabei lembrando e relendo nesta madrugada onde as coisas nem vão nem ficam por completo.
Faz falta certas coisas nesta cidade. Como certos zines, certas bandas ou certas pessoas. Faz falta encontrar com o Edvaldo ou com o Fábio, que eram as duas cabeças pensantes no zine. Te toda forma, se tudo continua... Você, o que quer realmente mudar? No que realmente acredita? Filosofia, história, psicologia ou em seu próprio catarro?

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