sábado, 13 de setembro de 2008

AS TENTATIVAS DE CONTINUAR

O que é exposto como destino em nossas mãos é no máximo a possibilidade de um mapa mal rasurado [e quando muito uma bússola!] cabe a nós assumirmos o risco de uma trajetória sinuosa... Uma longa caminhada corresponde ao olhar introspectivo da escrita: há expectativas e estas decorrem oclusivas e silenciosas no ser... Assim escreve-se porque entre tantas coisas há um silêncio, e prossegue-se nesta escrita porque se persegue este mesmo silêncio... A partir dele estão os sentidos, as memórias, os afetos... Não importa o quanto à palavra esteja eclipsada, ela ainda está ali... Eis a razão porque continuar; ainda que após auchswitz escrever poesia seja um ato de barbárie [adorno]... Ainda que um rio fique completamente seco, há a pedregosidade de algo que nunca se deixa mudo... O pensamento como algo que nos arrasta silenciosamente [um modo outro de buscar esta escrita]. Deste silêncio há muito que se falar: a crise da linguagem é mais ainda um motivo pra continuar a escrever... Eis mais uma face do silêncio como recolhimento tão necessário à criação [blanchot]... Em maio nem tanto uma ou outra língua, mas a correnteza de uma linguagem que nos move o pensamento, a memória e sua siamesa relação com o esquecimento – eis o desafio: o que fazermos com este pensar? Resistirmos como testemunha de um naufrágio ou tragédia? Esta escrita persevera em direção a uma fronteira... Não importa o caos de um tempo em que se está sempre envolvido, respira-se contra & além dessa existência...

A palavra que se desancora & se desafia – Benoni Araújo
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Eu sou este silêncio, eu estou neste silêncio. Algo que me impede de escrever como antes. Talvez porque já não seja mais hora de escrever. Mas talvez porque já não seja mais hora, aí então que sinto essa necessidade de escrita mesmo que ela não signifique tanto para tantos. Mas para mim, é algo que não poço deixar morrer. Porque morremos todos os dias, a morte não vem de uma vez só, ela acontece todo o tempo, e assim se segue até um momento maior. Por isso, talvez mesmo sem tanta vontade, ou com a cabeça já não funcionando como era antes, e mesmo sentindo que já não existe mais uma volta possível ao que era antes, é assim que tento continuar. Eu sou o antes. Mas nem sempre sou o agora. E mesmo eclipsado, talvez ainda continue aqui.

De toda forma, não consegui pensar em um outro texto para (ré) começar como “A Palavra que se desancora e se desafia” do escritor Benoni Araújo. Sei que foi um dos últimos posts de meu antigo blog, mas mesmo assim, este texto para mim é algo que sempre vale a pena ser lido.
Seja bem vindo a este mundo invisível.

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