“Molhada ainda de marinhos ventos, a Casa de Água guarda a respiração dessa mulher que anda, num estado de vidência órfica, da varanda ao quarto; do quarto à sala de música; e dali ao sono. Atrás dos muros de todas as casas de Villa da Concha há sempre uma roseira-branca que desfolha a chuva. Olor fino de chá. A essência de Krishna: Krim. Dentro do sono da mulher que respira inicia uma outra Casa de Água – a do sonho – que vence as chuvas contrárias e navega ao longo de uma restinga onde, naquela duna, escutamos um espírito que pronuncia: “Os hindus costumam dizer que existem árvores que podem ser chamadas de Kalpvrakshas – senta-se sob elas e tudo o que se deseja é satisfeito sem intervalo de tempo”. Inspirado pelo dito oriental, deito sob uma oliveira e peço ao meu coração que nade num trevo de quatro folhas.”
Trecho da novela “A Senhora do Gelo” escrita por Fernando José Karl.
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Conheci a literatura de Karl quando li poemas seus na revista Coyote, e de imediato senti que teria que conhecer sua literatura. Depois de algum tempo e alguma insistência minha, Karl me enviou sua novela via e-mail para eu ler. Uma novela escrita em uma prosa poética inspiradora sobre um homem escritor do tempo, e uma mulher que mora em uma casa de água dentro de um vilarejo perdido em algum tipo de paraíso suspenso pela palavra, pelo sonho, pela lágrima.
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