O estado de isolamento da literatura, da cultura do Ceará como um todo é tão intenso neste país que o único escritor contemporâneo citado pela grande mídia como cearense não reside no seu estado de origem há 30 anos: o médico Ronaldo Correia de Brito. Ele é praticamente quase um pernambucano da gema, pois reside mesmo é no Recife, contente, feliz e produzindo sempre por lá, sem nenhum vínculo com o Ceará, totalmente aderido ao movimento intensivo da cultura pernambucana. Caso morasse por aqui seria invisível. Ainda mais: em recente nota na Carta Capital, o Cidadão Instigado, grupo de música experimental, fortalezense visceral, foi chamado de recifense!E ficou por isso mesmo. Percebendo isso, a Secretaria de Cultura do Ceará vem realizando fóruns específicos com os artistas de todas áreas para reverter essa situação o quanto antes e de uma vez por todas. Dessas reuniões importantíssimas surgirão mapeamentos-de-estratégia para uma ação vital de modificação desse panorama de invisibilidade.
Intuição de um paranóico crítico
No plano editorial, nenhum escritor ou poeta cearense de qualidade, contemporâneo, vem sendo publicado por qualquer das grandes editoras brasileiras. Ana Miranda, que nunca viveu aqui-somente a infância e olhe lá - não conta. Agora, merecidamente famosa, veio refugiar-se na bela e inspiradora Prainha. Os mortos também não contam. Patativa do Assaré, Rachel de Queiróz, José de Alencar e outros poucosos restantes que ainda são publicados são todos do século XIX já que autores da mesma importância tais como Jáder de Carvalho, Moreira Campos, Aluísio Medeiros, Fran Martins, Durval Aires, Antonio Girão Barroso, Juarez Barroso, todos igualmente mortos, não são mais conhecidos por ninguém que freqüente as livrarias, os jornais, o rádio, a televisão, e a própria internet. Como explicar essa segregação real de nossa literatura e cultura no plano nacional? Haverá um plano maquiavélico midático de só comentar cultura brasileira até o estado de Pernambuco, que serve de ponto final, de muralha? E depois?
ASSIM NÃO DÁ!
E depois?Depois a mídia, as editoras pulam um espaço cultural de milhares de quilômetros, vão até Manaus, e pescam das profundidades do Rio Negro o talentoso, melodioso boto róseo Miltom Hatoum. Escritores cearenses que moram no RJ também não valem como prova de inserção na mídia, nas grandes editores. No caso, Adriano Espínola, por ex, já que uma escritora de enorme talento que mora há décadas no Rio de Janeiro como Maria Hilda Gouveia de Oliveira jamais é sequer mencionada. Exemplo novo concreto: nesse longa metragem de Helena Solberg e Marco Debellan, Palavra Encantada, nenhum grande letrista cearense como um Fausto Nilo, ou um compositor-cantor-letrista como Belchior, Ednardo, sem falar nos mais novos como o próprio Catatau, foi sequer convidado para participar dessa bela encenação cinematográfica que também, infelizmente é incompleta, omissa, e portanto, segrega mesmo parecendo não querer.Terminam o mapeamento novamente em Pernambuco com o Liminha e Lenine. Parece que existe mesmo um encantamento.
Não cometam Podas de Poesia uma outra vez
E quando forem fazer um filme sobre POESIA FALADA como o Chacal já está amplamente sugerindo num texto que escreveu-inseriu no site do Palavra Encantada na web entrem pela seção Notícias deste heterodoxo Cronópios-, se forem dessa vez de novo omitir nesse FILME o largo movimento Rodas de Poesia atuando desde 1999, o Massa-Nova, as Zonas Poéticas Liberadas as famosa ZPLS, o Jiriquiti, os Poemas Violados, os poetas da Praça do Ferreira e tantos outros daqui do Ceará, não haverá mesmo nenhuma outra explicação para esse desfato e desfeita do que a franca e honesta discriminação. Sistemática, geograficamente orientada. Essa omissão da palavra cantada cearense neste filme de Helena Solberg e cia prova no mínimo falta de cultura musical, de sensibilidade cultural. A omissão no filme de depoimentos-apresentações-perfomances de um Fausto Nilo, de um Antonio Soares Brandão, de um Ednardo e de um Belchior é simplesmente inaceitável! O Ceará foi guetalizado: ninguém mais entra , ninguém mais sai?
Carlos Emílio Correa Lima Barreto
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Estes textos originalmente foram publicados no café do site Cronópios. Os recebi via e-mail do escritor Carlos Emílio já faz um tempo, mas penso que ainda vale reproduzi-los aqui no blog para outros cearenses e para outros que daqui não forem e que ainda não leram.
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